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Analog Convida #1: Gabriel Fontes

Nessa nova série de artigos convidaremos fotógrafos pra compartilhar um pouco de suas percepções. Com um viés um pouco mais técnico e focando principalmente em equipamentos, esse é o Analog Convida.

O primeiro convidado é o Gabriel Fontes. Com 31 anos de idade e bastante experiência na área, hoje ele trabalha como Diretor de Fotografia no setor Audiovisual.

E não é a toa que ele estreia essa sessão. Assim como eu, o Gabriel (@gabrielsfontes) é fanático por equipamentos. E em meio a vendas, compras e trocas já foram centenas dos mais diversos tipos e formatos de câmeras e lentes que já passaram por sua mão.

Hoje, com um setup mais reduzido, ele conta pra gente um pouco sobre essa sua relação com a Fotografia Analógica.

– Ele também tem uma página no instagram onde anuncia várias câmeras incríveis! Não esqueça de dar uma conferida no @BrasilFilmCamera



Analog: Sabe dizer quando começou esse gosto por câmeras analógicas?

Gabriel: Eu peguei minha primeira câmera SLR com 12 anos de idade. Era uma Canon EOS rebel 2000 do meu pai. Ele comprou zero e fotografava bastante com ela. Eu achava as fotos incríveis. Ele me deixava pegar de vez em quando para usar. Comecei a experimentar as possibilidades que uma SLR proporciona ao invés da fotografia que eu conhecia que era só de snapshots com compactas de entrada. Eu curti demais o processo e já naquela idade sabia que queria trabalhar produzindo imagem de alguma forma. Como a primeira câmera foi de película o gosto pelo processo ficou. Eu tenho essa camera até hoje e ela funciona perfeitamente e ainda está em uso! Mais velho, na faculdade e em outros cursos que fiz tive a oportunidade de filmar em película e o gosto pela coisa voltou. Depois fiz alguns cursos específicos para filmar em película e durante esse tempo comprei uma nikon F3HP que só me deu dor de cabeça. Aposentei ela e comprei uma Yashica MAT LM, que me deu só alegria. Daí para frente cai no buraco negro de fotografar com filme e nunca mais saí. Hoje em dia não tenho mais camera digital.  

Analog: E me conta um pouco mais do seu set. Você considera que está completo ou falta alguma coisa ainda?

Gabriel: Meu set hoje em dia ta bem completinho para o que eu faço. Eu já tive muita câmera, mas fui trocando até moldar ao que eu gosto. Hoje em dia eu tenho médio formato em 6X7 e 6×6, os formatos que eu considero melhores. Tenho uma camera panorâmica que é um formato legal de usar, 35mm normal e uma compacta. Não vejo necessidade de mais nada. Eu curto ter várias cameras mas só se eu tiver uso para elas. Por enquanto não tenho vontade de explorar mais nenhum formato.  

O time “principal”: Contax T2, Mamiya 7ii e uma Leica M6
Mamiya 7ii

Analog: Você já teve bastante câmera diferente. Teve alguma que você não criou expectativa e te surpreendeu ?

Gabriel: Já sim! Na hora me veio a cabeça uma Yashica T4 zoom que eu peguei despretensiosamente e por um preço muito muito bom. Ela tava zero e completinha, eu não tinha compacta e peguei para ver se gostava. Como era uma compacta zoom eu não tava esperando muita coisa. Não tinha, na epóca, muita informação sobre ela online, então foi meio as cegas, só pelo nome. Revelei o primeiro rolo e meu queixo bateu no chão. A camera era magnífica, incrívelmente sharp, contraste insano, suave de usar, funcionalidades boas… Pacote completo. Eu até hoje não consigo acreditar que uma compacta com lente zoom consegue aqueles resultados. 

Analog: Algum equipamento você se arrepende de ter vendido?

Gabriel: Essa Yashica T4 zoom hahahah. Tem mais algumas, mas a que mais doeu foi uma Contax G2. Vendi porque fiquei com medo da durabilidade dela. Era um kit completo e zero, zero. Usava diariamente. Me arrependo porque mesmo que um dia quebrasse eu ia ter usado demais antes e feito fotos. Ela era a camera perfeita para o meu dia a dia. 

Analog: Se pudesse escolher só uma câmera e lente, qual seria?

Gabriel: Leica M6 e uma Summicron 35mm. Acho a Leica M6 a câmera analógica mais versátil que experimentei (para as minhas “necessidades”). Ela tem um sistema de loading que depois que pega o jeito é rápido e simples. E, ao contrário do que os Leica Fuck Boi por ai dizem (rs), EXTREMAMENTE bem construída. Existe um argumento de que zinco é um material mais durável que o cobre e que os mecanismos da câmera evoluíram ao ponto de aguentarem sem problemas o atrito causado pelo zinco que é mais duro que o cobre. Mas essa é uma longa discussão… De qualquer forma é inegavél que ela é bem construída e se bem cuidada dura uma vida toda. Tem o fotômetro mais bem feito, confiável e preciso que eu já usei. Além de ser super simples. Focar via rangefinder é muito preciso e simples também, me agrada demais. Ainda tem técnicos que mexem nelas e tem peça de reposição a vontade por ai (a câmera foi produzida de 1984 a 2002). É relativamente leve e compacta. 
A Summicron 35mm é uma lente incrivelmente bem construída e todas as versões dela são ótimas e tem características que são interessantes e me agradam. Gosto especialmente da ASPH. Por diversos motivos que dão um post inteiro sobre, não vejo sentido numa Summilux. Eu escolheria uma 35mm Summicron-M ASPH. 

Analog: Sobre lente, tem alguma que você fixou no set e não se desfaz mais?

Gabriel: Tem sim, uma 35mm Summarit-M. Melhor custo-benefício da Leica na minha opinião. Toda vez que eu uso essa lente eu me surpreendo novamente com o como ela é ÓTIMA em todos os sentidos. 

Analog: E qual sua distância focal preferida?

Gabriel: 35mm. Eu basicamente só uso essa lente. É difícil eu usar outra no dia a dia. Considero a distância focal mais versátil e a que mais me agrada esteticamente para quase qualquer uso. Eu faço retrato com ela, faço paisagem, faço street, quase qualquer coisa. Até para filmar, qualquer desculpa que eu tenha já taco uma 35mm na câmera. Acho que é uma distância focal que, pelo quanto foi explorada e pela complexidade da construção, obriga os designs a serem precisos. A maioria das marcas de respeito tem uma 35mm maravilhosa ao longo de sua história. Uma 35mm em 135 é próxima da nossa visão mas tem um feel mais wide sem perder o volume, a separação do objeto do background.

Analog: Alguma câmera que você ainda quer ter:

Gabriel: Sim, uma Nikon SP 2005. Acho essa camera o ápice da tecnologia nas rangefinder mecânicas e tem um dos designs mais bonitos do mundo. Tudo nela me agrada. O fato de ser raríssima, relativamente nova e ter uma das 35mm mais celebradas da história fazem dela o meu “holy grail”.

Nikon SP 2005: uma reedição da Nikon SP, uma das primeiras câmeras fabricadas pela Nikon. Fabricada em tiragem limitada de apenas 2500 câmeras, o que a torna super rara e colecionável.